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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Tempo de futebol

> José Geraldes

Pode parecer estranho escrever sobre o Campeonato Mundial de Futebol e a Selecção Nacional. Pelo contrário é o mais natural, pois trata-se de um acontecimento que nos vai entrar dentro de casa durante um mês.
E o futebol, ao contrário de certos intelectuais – felizmente poucos – não é um desporto alienante. Faz parte da vida colectiva. E arrasta multidões. Assistir a um jogo no estádio ou via televisão desencadeia emoções e comentários, protestos, mostra cenas de beleza, provoca momentos de entusiasmo e de desânimo, ou seja, os momentos do nosso quotidiano.
Grandes nomes da literatura ocuparam-se do futebol. Carlos Drumond de Andrade, poeta brasileiro, com um livro de crónicas e de poesia intitulado Quando é dia de futebol, Umberto Eco, ensaísta e romancista italiano, com o texto Como não falar de Futebol, Javier Marias, escritor espanhol com um livro de crónicas sob o título Selvagens Sentimentais, Jorge Valdano, antigo jogador e treinador argentino, autor de muitas crónicas, Ruy Castro, escritor brasileiro com uma biografia de Garrincha e Patrick Mignon, sociólogo francês com o ensaio A Paixão do Futebol.
Em Portugal, vários escritores publicam crónicas em jornais desportivos e há teses de mestrado que analisam a fundo as implicações sociais do futebol.
Albert Camus, escritor francês, de origem argelina, escreve: “Tudo o que sei com mais certeza sobre moralidade e obrigações, devo-o ao futebol”. Os Papas ao receberem as selecções ou equipas em visita ao Vaticano proferem palavras de elogio ao futebol pela potencialidade de virtudes que se pode adquirir na sua prática.
É raro encontrar uma aldeia ou cidade ou estabelecimento de ensino que não tenha a sua equipa de futebol. Daí que a denominação de desporto-rei tenha a sua razão de ser.
Um jogo de futebol pode oferecer um espectáculo maravilhoso. Alhearmo-nos do facto é não estar no mundo, para além de todos os problemas que a sociedade conflitual moderna produza.
Mesmo a nível financeiro mal se imagina o movimento que se faz. São conhecidas as elevadas verbas pagas pelas transferências dos jogadores. Anualmente, segundo números vindos a lume, o futebol no mundo atinge quase 300 milhões de euros facturando o dobro da General Motors dos Estados Unidos.
Um campeonato mundial, para além do desejo da vitória oferece momentos de convívio entre os países participantes e jogadores. Pode ser assim factor de paz ao facilitar relações humanas embora não se deva misturar a nenhum título política e futebol.
O gritar pelo êxito da nossa selecção ou exibindo a bandeira nacional não são actos patrioteiros mas de identidade nacional. É a realidade do que somos. Mostrar quem somos, só nos dignifica.
Mas há uma ressalva. Ao contrário do que tem acontecido no passado, o campeonato não pode ser pretexto para se não ganharmos o que desejamos, ficarmos num pessimismo doentio. A euforia faz parte do acontecimento mas é preciso termos uma atitude desportiva, pois das derrotas também se constroem vitórias.
O que importa, afinal, é termos bons espectáculos de futebol e com sorte e arte ganharmos. Todos o desejamos.
Como diz poema de Carlos Drumond de Andrade. “ Futebol que nos arrebatas, / esse rugir de alto-falante / vale mozartianas sonatas”.


Data de publicação: 2006-06-13 00:01:24
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