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“Fazer investigação em Matemática é um processo lento”

Helena Ferreira, pró-reitora e docente no Departamento de Matemática da UBI, considera que “em Portugal também se faz Matemática para ficar na História”. Em entrevista ao Urbi defende o esforço na aprendizagem. “Temos é que formar melhores professores em cursos com conteúdos universitários e deixar claro aos alunos que têm que se esforçar para aprender”, refere.

> Eduardo Alves
> Catarina Rodrigues

Urbi – Quais as tarefas que tem desenvolvido como pró-reitora da universidade?
Helena Ferreira –
Essa minha modesta função resume-se a desempenhar as tarefas decididas pelo conjunto da equipa reitoral e que me são imputadas. No âmbito dessas decisões, participei na comissão COBOL, actualmente extinta, na representação da Universidade em comissões de visita ou conferências, na organização de acções de divulgação e na análise de dados internos relativos ao funcionamento escolar.

U – É uma das investigadoras do grupo de investigação em Extremos, integrado no Centro de Matemática da UBI, uma unidade de I&D. Em que ponto está este projecto?
H.F. –
Os restantes elementos do grupo de investigação em Extremos, no CMUBI, são as Doutoras Luisa Pereira, actual Presidente do Departamento de Matemática, e Ana Paula Martins. Colaboramos regularmente em seminários e publicações com investigadores em extremos de outras unidades I&D. Actualmente estamos preocupadas com a construção da teoria assintótica para extremos de campos aleatórios. É um desafio muito combativo e moroso pois os conhecimentos e a intuição matemática que tínhamos adquirido ao longo dos últimos anos para os extremos de processos estocásticos revelaram-se insuficientes para os campos aleatórios. Foi preciso construir novas noções e provar primeiras propriedades para começarmos a ver surgir uma teoria consistente. Temos publicado os nossos primeiros resultados em revistas internacionais de Matemática indexadas na base ISI e participado com eles em conferências.

U – A ideia de criar um laboratório de BioInformática continua em pé?
H.F. –
Parece-me actualmente que a ideia se adequa mais a uma iniciativa conjunta do departamento de Informática e da FCS . No entanto, penso que a colaboração de Matemáticos pode ser proveitosa. A Bioinformática é multidisciplinar e para se obterem resultados com impacto na área (não estou a referir-me a simples aplicações de ferramentas estatísticas ou informáticas à Genética, pois para isso bastam cursos de utilizadores e a esses resultados chamo “exercícios de aplicação” do ponto de vista da Matemática e da Informática …) tem de se fazer investigação de base em várias disciplinas e conseguir a comunicação entre elas.

U – Como está a investigação em Matemática na UBI em particular, e em Portugal em geral?
H.F. –
A propósito da natureza da investigação em Matemática escrevi no URBI et ORBI do passado dia 25 de Abril. Fazer investigação em Matemática é um processo lento (se obtivermos os resultados, demoramos ano e meio a dois a anos para publicá-los pois os referees são poucos, exigentes e têm de verificar muitas deduções) e sem publicidade. Os Matemáticos são discretos, sabem que levam muitos anos a tentar provar resultados e habituaram-se à suspeição generalizada da comunidade. Para além disso, como não podem em geral viver da investigação, desgastam-se a ajudar alunos que não gostam de Matemática. Aquilo que deveria ser uma tarefa agradável para quem gosta e percebe a natureza da Matemática, ajudar outros a sentir o mesmo, torna-se uma acrobacia que nos consome a maior parte das energias. Com o número de horas de aulas, atendimento, vigilâncias, correcções de trabalhos e testes e prenchimento de quadros, não fica muito tempo para a investigação que se quer contínua e atempada. Por outro lado, se não há alunos que gostem de aprender as bases de Matemática também consequentemente não os há para fazer investigação na área. Os poucos que aparecem pensam que é só pôr o computador a correr uns programas para obter uns resultados com dados de alguma área e dizer que fizeram investigação em Matemática. O problema é que se enveredamos por este caminho nenhuma comissão de avaliação nacional ou internacional nos acredita a capacidade de fazer investigação em Matemática ou de atribuir o grau de Doutor na área. Tudo isto para lhe dizer que os nossos números baixos de artigos têm de ser contextualizados nas nossas condições de trabalho. No entanto se consultar a actividade do Centro Internacional de Matemática e de alguns centros I&D associados verifica que em Portugal também se faz  Matemática para ficar na História.

"Esforço de aprendizagem torna-nos mais aptos e nunca fez mal a ninguém"

"Tudo o que se centrar na aprendizagem pelo aluno vem melhorar"

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"Os Matemáticos são discretos"


Data de publicação: 2006-06-06 01:29:42
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