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A minha UBI: O IUBI vai mudar de nome!
Nuno Garcia · quarta, 27 de abril de 2011 ·
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21955 visitas É-me difícil separar a minha vida pessoal e profissional da vida da Universidade da Beira Interior. A 29 de Abril de 1986 era aluno do IUBI. Na quarta-feira seguinte, era aluno da UBI. Recordo-me bem do 30 de Abril de 1986. Eu tinha 20 anos, e nos dias que anteciparam essa quarta-feira havia um ambiente de antecipação e de festa. Recordo-me dos preparativos para a mudança, em particular, de que no cimo da porta de entrada para o bloco I, estava escrito “Instituto Universitário da Beira Interior” e claro, essas letras foram removidas e substituídas por outras que diziam “Universidade da Beira Interior”. A mudança foi estranha, e creio que na altura o sentimento que me ficou não foi o de uma melhoria, foi antes o de perda. O IUBI era nosso e apesar da mudança ser para melhor, há sempre algo que se lamenta. Mas era festa, e foi, tanto quanto me lembro, o primeiro dia em que de facto não houve aulas para se celebrar uma data da própria instituição. Éramos poucos na altura (mas não arrisco a dizer quantos) e havia um sentimento de mudança permanente no ar. Tudo mudava, exceto a taxa de aprovação a cadeiras como por exemplo Mecânica Geral e Termodinâmica. E das Análises! 1, 2, 3, 4... enfim, essas já lá vão. Havia apenas um pequeno bar no alto das escadas de pedra do Pólo I que servia toda a comunidade “IUBIana”. A biblioteca (única) estava no canto sudoeste da parada e a reprografia já era no sítio onde está agora. Obviamente, não havia traje académico oficial - o Fava dos Santos (Engenharia Têxtil) usou o primeiro traje académico da UBI, ainda antes do actual figurino. Nunca tive aulas com o nosso primeiro Reitor, o Professor Passos Morgado, mas numa das paredes de uma sala do bloco I havia uma frase escrita a giz que dizia “Termo brigas van der reitas in talbotus horizons montadus”. Ainda hoje me pergunto quem terá escrito aquela frase, e o que é que quereria dizer (e porque é que eu não me esqueci disto?). Recordo-me de um episódio com o Reitor Passos Morgado, ocorrido uns meses antes. Nesses tempos, passávamos grandes períodos de tempo no centro de informática, o que obviamente contribuía para o insucesso nas outras cadeiras dos preparatórios (atenção alunos – é preciso ir às aulas!!!). Tínhamos um IBM System 34, que era um dos poucos (4 ou 5) computadores que a Universidade tinha (e a cidade teria mais 1 ou 2, talvez), que era um enorme sistema com 3 ou 4 terminais, gerido e operado pelo Sr. Carvalho, o Dr. Fortes, e claro, pelo Professor Pacheco de Carvalho. Esse sistema está exposto agora num dos corredores do Centro de Informática. Nessa altura, o Sr. Reitor, numa das visitas que fez à sala dos computadores, disse algo parecido a “temos que abrir a Universidade à comunidade” e encarregou-nos, a mim e a outro colega, sob supervisão do Prof. Pacheco de Carvalho, de “organizar uns cursos”. Naquela altura, o grau de informalidade era este. Os cursos foram planeados, receberam-se inscrições, mas nunca chegaram a arrancar. As salas de aulas do pólo I não tinham portas e como o bar era ali mesmo ao lado, havia frequentes conflitos de interesses – quem estava nas aulas tinha por vezes dificuldades em ouvir as conversas que se passavam no bar. A Associação de Estudantes do IUBI era na sala onde é hoje o CAD do Departamento de Engenharia Têxtil. As aulas dos preparatórios de Engenharia Electrotécnica eram dadas apenas no piso superior do pólo II, e nas salas do piso de cima do pólo I. As salas do piso térreo do pólo I eram laboratórios de física, de electrotecnia e de química. Isto provavelmente ainda é uma daquelas coisas da praxe de 1983, mas ainda hoje estou para saber se de facto existe um túnel entre o então laboratório de química e o antigo Café Montalto, em pleno Pelourinho. A Covilhã era obviamente diferente. O Escola Secundária Frei Heitor Pinto, de onde eu tinha saído 3 anos antes, tinha uns 2000 alunos (hoje terá bastante menos de metade). Nessa altura o 12º ano tinha apenas 12 horas de aulas por semana. Outros ritmos, outras exigências. Para nós que andávamos nos preparatórios, o objectivo naquela altura era concluir os primeiros dois anos e seguir para Lisboa, Porto ou Coimbra, para acabar o curso. A vida económica e social da cidade desenrolava-se ao redor da ainda existente indústria e eu ainda me lembro de ouvir o silvar das caldeiras da tinturaria do Petrucci no meu caminho para o IUBI. Pouco a pouco, crise após crise, sucesso após sucesso, a cidade e a universidade cresceram em complementaridade, diria que em simbiose. Em 1986 a Covilhã não era uma cidade universitária, e hoje é-o. A investigação no IUBI, se a havia em 1986 era marginal ou restrita a áreas muito específicas. A qualidade da investigação que se faz hoje não tem complexo em medir mérito com qualquer outra. Deve ter sido mais ou menos em 1986 que se puseram os primeiros estrados nas salas, por forma a permitir melhor visibilidade aos alunos das últimas filas. E fumava-se nas aulas. Numa das nossas aulas, o Romão (?) de Química deitou fogo ao caixote de papéis com um cigarro mal apagado. Levantou-se, pisou os papeis, e o professor no quadro continuava a escrever. Muito barulho, muitas pisadelas nos papéis a arder, e depois do fogo apagado, o professor vira-se e diz “parece que cheira aqui a queimado!”. Julgo que terá sido no dia 30 de Abril de 1986 que assisti à chegada do Sr. Reitor, de carro, à UBI. Entrou pela porta que está em frente à fonte na Rua Marquês d’Ávila e Bolama. Quando ele sai do carro, e mesmo com a rua cheia de autoridades e policia sai imediatamente o Sr. João José (que era o motorista da reitoria) e fecha as portas do carro à chave. Um gesto sistemático que revela o grau de cuidado que se punha no que era feito. Há coisas que no entanto não mudam: a euforia / timidez dos caloiros quando chegam (depressa “orientados” veteranos), a euforia dos caloiros (e dos não-caloiros) no primeiro nevão do inverno, a euforia / loucura dos caloiros na latada, e o cheirinho das salas de aulas. O cheiro das salas de aulas do bloco I ainda é igual ao que era há 25 anos! Outras coisas mudam, para melhor. As ligações rodoviárias a Lisboa demoravam 5 ou 6 horas, e implicavam fazer o caminho por dentro de todas as localidades: Refúgio, Fundão, Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Nisa, Alpalhão, Gavião, Ponte de Sôr, Montargil, Mora.... e finalmente, entrar na A1 depois da ponte sobre o Tejo em Vila Franca de Xira. Escusado será dizer que o nosso mundo era radicalmente diferente. Nós, enquanto estudantes estávamos “limitados” ao que era dito nas aulas, aos livros da biblioteca, e eventualmente, às fotocópias de sebentas que vinham aparecendo por cá vindas de outras universidades, tradicionalmente de Coimbra e do IST. Lembro-me, por exemplo, de ir à Universidade de Coimbra com várias disquetes de 5”1/4, pedir para me deixarem imprimir um programa. Hoje, sobretudo por causa da Internet, todo o mundo está de facto mais pequeno. Todo não: a UBI está maior. E melhor! |