O que anda a fazer a Internet ao jornalismo? Ou o que anda a fazer o jornalismo na Internet? Estas questões foram, em certa medida, respondidas na passada semana, na UBI. Um encontro internacional de investigadores e profissionais da área serviu para debater o que tem sido feito nos últimos 15 anos, no que diz respeito ao jornalismo na Web. Nesse sentido, as conferências começaram com a de debate sobre "Os 15 anos de Jornalismo na Web em Portugal".
A conferência, promovida pelo Labcom, analisou o panorama português, mas também o que se passa na Europa e na América Latina. Um vasto leque de oradores foi “garantia de uma boa jornada”, como disse Paulo Serra, presidente da Faculdade de Letras da UBI, ao dar início aos trabalhos. As jornadas começaram precisamente com a mesa que analisou o jornalismo online em Portugal. Depois dos primeiros tempos em que esta prática “era incipiente e experimental, o desembarque tem sido paulatino”, sublinhou Hélder Bastos, da Universidade do Porto. Mas os tempos continuam “de impasse” para este investigador.
Já Joaquim Fidalgo, da Universidade do Minho, preferiu retratar o jornalismo online português como uma actividade que está agora a conseguir a sua identidade. O investigador lembrou que este é um meio onde “tudo muda com uma rapidez assinalável”. As novas tecnologias vieram para ficar “tal como a relação entre os leitores e os jornalistas”. A participação dos cidadãos é um fenómeno “cada vez mais importante”. Hoje o leitor “tem a possibilidade de intervir no processo comunicacional, nem que seja, reencaminhando as informações que lhe chegam”. Também João Canavilhas, organizador do evento, abordou os novos desafios que a Internet colocou ao jornalismo. O docente do Departamento de Comunicação e Artes lembra que com esta plataforma “os meios serão mais multimediáticos, mais instantâneos, mais participados”, mas também, “hiperlocais e adaptados aos suportes móveis”.
Um dos principais resultados do evento passa pelas novidades que os investigadores apontam para o sector. No entender de João Canavilhas, “as redacções vão sofrer alterações, e os jornalistas têm agora de apresentar novas capacidades e conhecimentos”.
A mudança que, tal como a Internet, parece ser global.
Na análise do panorama internacional, sobretudo, no continente europeu e americano, o que mais se alterou foram “as relações entre os meios e os leitores”. Um debate que teve lugar numa intervenção sobre "Jornalismo na Web: a realidade ibero-americana". Concha Edo, da Universidade Complutense de Madrid, lembra que as potencialidades deste novo meio “ainda não estão totalmente exploradas”. A investigadora sublinha até que “todo o potencial que pensávamos que existia na Internet deixou muito a desejar”. Uma das grandes conquistas foi “a notória participação dos leitores”. Participação essa “que nem sempre é feita ou traduzida em conteúdos jornalísticos, mas no comentário e replicação destes”. Quer na Europa, quer na América Latina, os jornais online “ainda exploram pouco as capacidades da rede”, acrescenta Marcos Palácios, da Universidade Federal da Bahia.
O debate contou também com a participação de profissionais do meio, na intervenção sobre "Jornalismo na Web: passado, presente e futuro". Jornalistas e editores falaram nas mais recentes plataformas comunicacionais. As redes sociais que ganham agora terreno na Internet, o telemóvel e os blogues são fenómenos que continuam em crescendo.
Manuel Molinos, do Jornal de Notícias e Pedro Brinca, do Setúbal na Rede, avançaram com algumas experiências que têm marcado os jornais e que foram mudando o estado do jornalismo na Web. Mais formação para os futuros profissionais, segmentação das notícias e conteúdos e um maior conhecimento das tecnologias de comunicação são alguns dos requisitos que devem marcar os futuros profissionais.
O dia de trabalho foi encerrado com a intervenção de António Fidalgo. O docente de Comunicação e Artes e presidente do Labcom lembra que esta unidade de investigação tem na sua linha de acção os novos meios. Muitos dos projectos ligados à Internet têm sido alvo de análise e estudo por parte dos membros do laboratório de comunicação. A grande inovação, para o docente e investigador passa agora pelo jornalismo e redes móveis. Na grande variedade de contextos e plataformas torna-se cada vez mais difícil “diferenciar informação de notícia e esta de um simples rumor”. Quanto ao jornalismo, “este tem sempre de ser visto como uma actividade que trata de informações sociais e não de informações individuais”.