Urbi@Orbi – Desde 1994 que está na UBI. Para além de docente passou também por diversos lugares de gestão da academia, e chega agora a presidente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Uma faculdade na qual diz que existem alguns conflitos internos. Que tipo de conflitos?
Pedro Guedes de Carvalho – [Ver Resposta] – Em todas as organizações há este tipo de situação e isso até é salutar. Só que, aí uso a linguagem muito competitiva dos treinadores que lembram que quando está tudo bem, alguma coisa está mal. Haver competição é sinal de que todos queremos chegar mais rapidamente ao objectivo que todos os outros e por isso competimos. Isso cria alguns conflitos que não são insanáveis, são ultrapassáveis. E a universidade tem essa obrigação, ou seja, nós temos de saber ganhar ou perder e temos de saber ouvir críticas e temos de auto-reflectir.
O que acontece aqui é que há uma mudança geracional, isto é, se poderá haver pessoas que estejam a querer fazer desta mudança uma luta de velhos contra novos, eu vejo-a como uma luta de etapas da universidade. A academia passou por uma fase em que era preciso betão, construir, fazer obras e teve de o fazer. Mas para fazer isso retirou dinheiro da investigação, da docência. Os primeiros professores que aqui trabalharam deram o seu corpo, o seu suor para aguentarem as aulas com um mínimo de qualidade e por isso tiveram de fazer muitas tarefas que os impediam de investigar.
Depois passámos à fase da formação. Esses mesmos professores tinham de ter os primeiros doutoramentos e depois desses tinham de formar jovens assistentes que estavam na carreira, e essa foi a fase da formação.
Agora chegou a altura da fase da qualificação internacional, o que abre outras perspectivas. Isso cria sempre conflitos, porque os que estavam no antigamente sentem-se um pouco injustiçados, até porque trabalharam muito noutro momento e hoje as avaliações que nos exigem no Estatuto da Carreira Docente apontam para outras coisas completamente diferentes. Hoje já não é o dar o corpo ao manifesto, já não é o dar muitas aulas, já não é o fazer sacrifícios pelos outros, mas sim o publicar cientificamente. E isso é preciso um treino específico, não é qualquer um que publica sobretudo numa língua inglesa que nos leva a fazer outro tipo de exercícios que nos exigem muito mais e temos de preparar-nos para isso.
Urbi@Orbi – Defende também uma discriminação positiva para esta faculdade. A que se deve isso?
Pedro Guedes de Carvalho – [Ver Resposta] – Os primeiros cursos desta faculdade começaram no actual Edifício das Matemáticas (6ª fase), uma coisa que tinha sido conseguida por alguns professores desta faculdade e depois transferiram-nos todos cá para cima, para um novo edifício, (4ª fase), mas um novo edifício sem as condições que tinha o outro. Todos consideramos que isso foi um mal necessário, mas foi muito mal recebido porque a aposta estratégica nessa altura era nas Engenharias e nos cursos que se pensava serem o futuro da universidade.
O que acontece depois é precisamente o inverso. Esta faculdade passa a ser aquela que vai alimentar a universidade. Porque é a faculdade com maior número de alunos, tem cerca de 1800 estudantes, representando mais de um quinto de toda a população académica, tem mais cursos, tem mais diplomados, tem mais graus de doutoramento e, no entanto, não tem instalações tão condignas como têm as Engenharias ou a Faculdade de Ciências da Saúde. Não é uma questão de “inveja”, mas sim de, pensar que chegou o momento de haver alguma preocupação, alguma discriminação positiva, no sentido de existirem melhores apoios, sobretudo na logística, nas instalações, etc., para também termos condições para melhorar.
Mesmo com menos condições foram dados saltos importantes em termos de publicação científica, onde estamos acima da média da universidade, o que há cerca de três anos era impensável. Nos últimos tempos existiram melhorias substanciais e acho que quando a gente melhora deve ter incentivos.
Urbi@Orbi – Mas também aqui existem alguns bens exemplos, como é o caso de três docentes colocados em lugares de destaque no ranking nacional de gestão…
Pedro Guedes de Carvalho – [Ver Resposta] – Esses são exemplos de três docentes que nos últimos anos têm feito um sacrifico importante e um esforço fundamental para dignificar a universidade. Já deixámos de estar sempre nos rankings de baixo para começarmos a ter pessoas nos lugares de destaque desse ranking, na área da Economia e da Gestão.
Não há um ranking feito, em termos nacionais, no que diz respeito às publicações científicas na área do Desporto, porque se existisse, estaríamos em primeiro lugar.
Desta maneira, já temos duas ou três áreas onde podemos competir a nível nacional sem qualquer problema.
Urbi@Orbi – Mais trabalho e empenho, mais auto-avaliação e recompensas. É assim que tenciona construir uma métrica de avaliação para a Conselho Científico?
Pedro Guedes de Carvalho – [Ver Resposta] – do ponto de vista da avaliação do desempenho e da avaliação dos júris para contratações, o científico tem um papel relativamente baixo em relação ao grupo de catedráticos. Este grupo é que vai propor uma métrica, os seus critérios, que depois a reitoria poderá aceitar ou não, sendo assim uma competência exclusiva destas duas partes.
De qualquer forma, a faculdade tem metas bem claras que pretende atingir. Por exemplo, estamos neste momento a promover um mestrado internacional na área do desporto e queremos alargar esse tipo de experiências a outras áreas científicas. Neste mestrado internacional estão professores canadianos, americanos, portugueses e espanhóis. Uma das preocupações que tive foi perguntar-lhes sobre a forma como avaliam os professores nos países deles, qual é a forma de selecção.
Uma das grandes apostas passa por publicar em revista científicas de referências, que apresentem os níveis de publicação ISI. Porque estas revistas têm a capacidade de seleccionar e fazer um ranking internacional de todas as melhores publicações. Não há revistas nenhuma que se preze que não queira atingir estes padrões que são os mais elevados. A ISI tem todas as melhores revistas do mundo lá indexadas. Para além disso tem vários níveis de impacto onde cada revista pode ir do zero ao dez ou ao 20, e por aí fora. Na nossa área, o impacto das revistas é, em média, entre dois a três pontos, na Medicina e na Química, estes valores são mais elevados.
Quando pergunto aos docentes estrangeiros, quais os critérios de selecção que têm, os graus mínimos exigem oito publicações ISI para associado e 16 para catedrático. Se quisermos ser iguais teremos também de nos reger por estes padrões. Não podemos continuar a admitir pessoas que não tenham esta marca. Esta é a grande discussão interna, neste momento. A de saber até que ponto é que ao marcar metas deste tipo, elevadas; as pessoas vão reagir bem no sentido de terem um caminho e segui-lo. Acho que isso é o melhor e é bem possível. Veja-se o caso já referido, há três anos não tínhamos nada e hoje, em termos de publicações já temos muita coisa. Portanto este é um dos parâmetros que temos de conseguir atingir e de treino do próprio trabalho.
Isto não é fácil e leva mais tempo. Pode-se submeter um artigo e estar dois ou três anos à espera que este seja publicado. Como tudo isto exige mais esforço, tem uma certa resistência.
Mas se quisermos que esta faculdade avance para doutoramentos internacionais, que chame os melhores alunos temos de ter estas medidas. Até porque, as universidades e os docentes de referência não vão fazer convénios connosco se não tivermos as mesmas características de avaliação.
“No futuro será a universidade a desafiar a comunidade”
“Só é possível aumentar a credibilidade da faculdade se tivermos produção científica”