Na A23, os ligeiros de mercadorias são os que mais ultrapassam os limites de velocidade
Limites ultrapassados
Condutores da A23
circulam em excesso de velocidade


Oitenta por cento dos automobilistas da Auto-Estrada da Beira Interior ultrapassam os limites de velocidade impostos pelo Código da Estrada. Os ligeiros de mercadorias são quem mais prevarica e fazem disparar a média.


Ana R. Rodrigues
NC / Urbi et Orbi


Se a intenção do Governo em utilizar os sistemas de vídeo vigilância das auto-estradas como meio de detecção e prova a infracções ao Código da Estrada, e caso isso fosse possível na A23, 80 por cento dos veículos que circulam nesta via seriam multados por excesso de velocidade. O número de viaturas que, em média, andam acima do limite de velocidade permitida.
Segundo Gil Conde, administrador-delegado da Scutvias, a concessionária da Auto-Estrada da Beira Interior, os veículos ligeiros de mercadorias são quem mais contribui para esta estatística, uma vez que em 95 por cento dos casos circulam a mais de 110 quilómetros horários, a velocidade máxima imposta a estes carros de dois lugares. O que faz disparar a média geral.
O responsável da Scutvias acrescenta que grande parte dos acidentes graves nas auto-estradas têm como intervenientes este tipo de veículos chamados “comerciais”. Na sua perspectiva, porque são automóveis sem estabilidade e peso para suportar velocidades mais elevadas.
A solução tem de ser global e este responsável entende que passa pelo rigor na fiscalização e na aplicação da lei sempre que se detectem irregularidades e não aleatoriamente. Para que não haja a ideia de que nem sempre se é multado. Medida que, na opinião de Gil Conde, não implica um aumento da fiscalização. O tipo de condução praticada habitualmente pelos portugueses é também apontada pelo administrador-delegado da Scutvias, que apela para uma condução defensiva em vez da agressiva, que na maioria das vezes se verifica.

Troço Castelo Branco-Fundão é o mais movimentado da região

Os dados são recolhidos no Centro de Assistência e Manutenção (CAM) da Lardosa, no Centro de Controlo de Tráfego, onde está instalado um autêntico “big brother”. É lá que se faz o visionamento das largas dezenas de câmeras instaladas ao longo dos 180 quilómetros da A23 e dentro dos túneis, a que se dedica especial atenção. A via tem 27 nós e perto de cada um está uma câmera fixa e outra móvel, o que perfaz 54. Já dentro dos dois túneis da Gardunha de maior dimensão estão 40 equipamentos de vídeo vigilância.
No solo há dispositivos que permitem aferir as velocidades médias e a intensidade de tráfego por hora. E como se trata de um sistema de portagens virtuais, o Estado paga à concessionária o valor por cada veículo, faz-se a sua contagem, identificando o número de eixos e a distância entre eles para se distinguirem as oito categorias de viaturas. No pavimento estão também tecnologias que detectam no momento os transportes que circulam com carga excessiva, fazendo aparecer a indicação nos monitores do Centro de Controlo.
A todo o momento é possível saber a fluidez do trânsito. A média diária de utilização da A23, segundo Joana Dias, chefe do serviço de informática da Scutvias, é de cerca de 12 mil veículos. E a zona de Abrantes é a mais movimentada, 20 mil viaturas, o troço que vai da Covilhã à Guarda é o que regista menos trânsito, à volta dos seis mil por dia. Na Beira Interior o lanço mais utilizado é entre Castelo Branco e o Fundão. De acordo com Isabel Amaral, relações públicas da concessionária, trata-se sobretudo de “trânsito regional, que possivelmente faz o circuito diariamente”, uma vez que entram no nó albicastrense e saem no outro, e vice-versa.
O equipamento de vídeo vigilância representou cerca de 70 por cento do investimento total da Scutvias na A23 e, por enquanto, esses meios não poderão ser usados para aplicar multas. Para isso é necessário um investimento adicional para a aquisição de tele-objectivas que permitam aproximar mais a imagem e identificar matrículas. No entanto, essa função não está contratualizada e a Scutvias diz que não tem um papel fiscalizador. Mário João, responsável pelo Centro de Controlo de Tráfego, sublinha que não são agentes da autoridade, mas acrescenta que há condutores que parece não terem consciência que com certos comportamentos podem estar a pôr-se em perigo a si e aos outros e frisa que “a vigilância é dissuasora”.