António Fidalgo
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O mercado universitário
internacional
Um recente artigo em The Economist “Free degrees to fly”
(26/02/2005) aborda a internacionalização do mercado
universitário e o enorme negócio que representa. Há
cerca de 2 milhões de estudantes hoje em dia a estudar no
estrangeiro, dois por cento dos cerca de 100 milhões de
estudantes universitários em todo o mundo. O negócio é
de cerca de 30 mil milhões de dólares e a tendência
de subida é muito alta. O número de estudantes chineses
na Austrália aumentou 47% em 2003 e o número de
indianos subiu nesse ano 52%. Como os estudantes estrangeiros pagam
normalmente mais que os estudantes nacionais as universidades,
cronicamente em dificuldades financeiras, têm todo o interesse
em admitir esses estudantes. Além do mais, o prestígio
aumenta com o aumento e a diversidade da procura.
As universidades dos Estados Unidos, Inglaterra, França,
Alemanha, Espanha, concorrem fortemente por estudantes estrangeiros.
Como o inglês se tornou a língua franca há
escolas em França e na Holanda, entre outros países,
que oferecem cursos dados em inglês. Não é pouco
o que está em jogo. A internacionalização e a
concorrência aplicam-se cada vez mais às universidades e
a excelência será medida por padrões
internacionais. Os estudantes procurarão cada vez mais
analisar as relações entre custos e benefícios
de frequentar esta ou aquela universidade. A quantidade de
doutorandos portugueses em Espanha é um sinal de que as leis
do mercado, da oferta e da procura, se aplicam também aos
estudos superiores.
A internacionalização das universidades portuguesas é
de uma via, infelizmente. Muitos portugueses estudam em universidades
estrangeiras, sobretudo na pós-graduação, e
pouquíssimos estrangeiros estudam nas universidades
portuguesas. Ficamos quase só limitados aos estudantes
provenientes das antigas colónias. É urgente inverter a
situação. Precisamos de muitos estudantes estrangeiros.
Até porque a capacidade instalada em Portugal, ou seja a
oferta, é, ao contrário de alguns anos atrás,
muito superior à procura. Há departamentos e cursos nas
nossas universidades que não têm estudantes. A solução
só pode ser ir buscar estudantes onde eles estão.
Portugal tem um mercado natural que é o Brasil, tal como a
Espanha tem os países latino-americanos. O futuro das
universidades portuguesas passa muito pela atracção de
estudantes brasileiros, tanto de graduação como de
pós-graduação. Ao invés de Portugal, no
Brasil a procura de lugares de estudo nas universidades supera
largamente a oferta, O caminho a seguir é fácil de ver:
captar em força alunos estrangeiros, nomeadamente os da África
lusófona e do Brasil. A base de recrutamento passará de
uma população de 10 milhões para uma de mais de
200 milhões. Muito do futuro de Portugal passa por aqui.
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