NC / Urbi et Orbi


O baixo número de alunos em algumas escolas não é justificação para o encerramento destas, diz o sindicato.

“O encerramento de escolas baseado em critérios meramente estatísticos é o último passo para o desaparecimento de muitas aldeias”. As palavras são de Mário Nogueira, coordenador do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC).
Em declarações em Viseu, no final de um encontro sobre "A escola em meio rural", aquele responsável afirmou que "a intenção do Governo, já em marcha, de encerrar praticamente todas as escolas frequentadas por menos de dez alunos num prazo curto" poderá levar muitos pais a optar por residir onde os filhos tenham escola.
Segundo o dirigente sindical, o SPRC tem "dados estatísticos que apontam que, se continuar este encerramento apenas baseado no número de alunos, distritos como a Guarda dentro de muito pouco tempo pouco mais terão do que as escolas da cidade".
"Dentro de três ou quatro anos, 80 por cento das escolas que actualmente existem no distrito, do primeiro ciclo, do ensino básico e do pré-escolar, encerrariam. Há concelhos na Guarda em que, se o Governo aplicasse a fórmula dos dez alunos, não restaria um único jardim de infância aberto", frisou.
Mário Nogueira refere que o Sindicato admite que "há situações em que as escolas dificilmente se manterão abertas, mas há outras em que não", sendo fundamental que "não haja uma regra administrativa ou contabilística que declare que as escolas a partir de determinado número de alunos têm de fechar". É uma política, critica, “que, por ser tomada assim de forma administrativa, assenta fundamentalmente numa perspectiva economicista, porque manter tantas salas abertas significa mais despesa, sobretudo para as autarquias".

“É preciso melhorar condições”

O coordenador conta que pessoas que estão a elaborar cartas educativas de alguns concelhos defenderam durante o encontro que "tomar decisões por critério meramente contabilístico é errado, até porque há situações em que, estudando o movimento das populações, escolas que têm menos de dez alunos, mas se tudo correr como prova a taxa de natalidade dentro de alguns anos poderão ter mais alunos".
Na sua opinião, devem ser tidos em conta outros critérios, como a distância entre a residência e a nova escola que as crianças vão frequentar, exemplificando que, no caso do distrito de Viseu, "há zonas na Serra do Montemuro que se fecharem as escolas, tem de se fazer pelo menos uma hora de transporte para a mais próxima". "Dessa forma as crianças baixam o rendimento, porque quando chegam à escola já vão com vontade de descansar e quando chegam a casa estão com vontade de tudo menos estudar", alerta. Por outro lado, sustenta, há casos em que a escola constitui um importante pólo dinamizador da comunidade local, ainda que seja frequentada por poucos alunos.
No seu entender, "tem de haver um equilíbrio" entre vários critérios e a decisão deve "passar sempre pelo diálogo com a comunidade e não apenas com a autarquia, que muitas vezes está mais preocupada com os custos de manutenção da escola". Nos casos em que se entenda encerrar um estabelecimento, "não basta dar às crianças mais do mesmo só que noutro sítio, ou seja, continuar com más condições". Como estão fora da sua terra, devem ter na escola "refeições, salas de estudo, alguém que as acompanhe enquanto estão sem aulas, para poderem ter actividades durante o seu tempo livre", conclui.