Entre o mar e a serra




Loulé




Por Nélia Sousa

Afastada do vasto oceano e rodeada de pomares de frutos sumarentos, a cidade que hoje se apresenta aos nossos olhos é produto do forte surto turístico que a fez crescer económica e urbanisticamente nos últimos anos. Loulé, é, nos dias de hoje, um dos principais centros urbanos do Algarve, ao lado de Faro e Portimão.
É perante este cenário pitoresco que partimos à descoberta da terra da Ti'Anica. O castelo, as igrejas, os conventos, as ermidas, o cine-teatro, o museu, as ruas estreitas e brancas onde artesãos mantêm velhas tradições são itinerários que o turista não deve deixar de traçar no seu velho mapa. Importa também percorrer a Praça da República e a Avenida José da Costa Mealha onde a burguesia ostentava a sua riqueza numa arquitectura fantasista, ou ainda o Mercado Municipal, ao gosto árabe, do início do século XX.
Em épocas remotas o território foi povoado por diversos povos, cabendo aos muçulmanos a edificação da urbe medieval, que viria a gerar a actual cidade histórica.
O esplendor económico e o crescimento habitacional só nos séculos XIX e XX viriam a emergir da sombra provocada pela grave recessão que motivou a estagnação da então vila durante um longo período de tempo. A construção de novas urbanizações, ruas e avenidas, a par do desenvolvimento das vias de comunicação vêm dar uma nova dinâmica e vitalidade a Loulé contribuindo no seu conjunto para a profunda mudança no modo de viver da população. Eis que nasce uma cidade cosmopolita, ponto de encontro de gentes oriundas de diferentes nações, raças e culturas, relembrando a Antiguidade quando Suevos, Vândalos e Visigodos coabitavam este pequeno espaço ímpar.

À descoberta do concelho

Da Serra do Caldeirão às famosas praias de areia fina e transparente é um saltinho. O concelho de Loulé oferece a quem o visita uma paisagem rica e diversificada, colorida pelas hortas e charnecas e embelezada pelas famosas praias de águas límpidas e transparentes.
Calcorreando as mais típicas aldeias do interior serrano, a primeira paragem faz-se em Querença. Aqui o visitante pode apreciar a beleza arquitectónica da igreja matriz e o Sítio Classificado da Fonte Benémola, um verdadeiro oásis cercado por espécies vegetais pouco comuns no Algarve, como é o caso dos salgueiros, freixos e folhados que florescem ao longo das margens da ribeira e que servem de abrigo a lontras e aves de diversas espécies. Na fauna destaque-se ainda a existência de algumas colónias de morcegos que certamente se refugiam nas grutas que circundam o parque, detentoras de um riquíssimo espólio arqueológico. No acesso, encontra-se o miradouro do Cerro dos Negros com amplos panoramas que abrangem o litoral.
Continuemos o passeio, desta vez até Barranco do Velho. No cimo do monte, a igreja, construída em 1944, chama a atenção. Do seu adro a vista é magnífica.
Em Salir, o casario branco da aldeia espalha-se pelas colinas, envolvendo as ruínas do Castelo que se supõe ter sido construído nos séculos XII/XIII. As suas muralhas, construídas em taipa, são um dos poucos vestígios de fortificação muçulmana em Portugal.
A poucos quilómetros de Salir encontra-se Alte, considerada por muitos a aldeia mais típica do Algarve. A igreja matriz e a Capela de São Luís constituem o património histórico. As Fontes Pequena e Grande são outro dos atractivos da povoação. Trata-se de nascentes que durante séculos foram local de encontro das mulheres da aldeia que aí se deslocavam para encherem os cântaros de água e lavarem a roupa. Hoje é um local aprazível convidando a um bom piquenique e a umas horas de descanso. Em volta de Alte, mais precisamente, no Moinho de Águas Frias, junto à ribeira de Arade, poderá ainda ver de perto o método ancestral de moer a farinha ou então conhecer as antigas alfaias agrícolas e objectos de uso doméstico tradicional que o mini-museu rural de Malha Ferro guarda no seu interior.
Abandonemos agora o silêncio e a solidão do barrocal e caminhemos até ao bulício do litoral. Pelo meio dê ainda um saltinho até Boliqueime para visitar a bonita igreja branca edificada no topo de um cerro.
Nas noites quentes de Verão, Quarteira enche-se de cor e animação para receber os turistas de todo o país. Os festivais, feiras e outros eventos tomam conta da avenida principal transformando-a num autêntico formigueiro humano atraído pelo cheiro inconfundível das saborosas "assadas".
Outrora vila piscatória, Quarteira é hoje um importante centro turístico. Do seu passado histórico ficou a igreja, datada do século XVIII e algumas casas decoradas com platibanda. A poente situa-se Vilamoura, outro importante pólo de atracção turística, conhecido pela famosa marina, ancoradouro de dezenas de iates e outras embarcações de recreio. Os cafés, restaurantes, bares e discotecas são o ponto de encontro de inúmeras figuras conhecidas do panorama político e social português.
A Capela de São Lourenço dos Matos em Almancil é sem dúvida um verdadeiro tesouro de arte. Os painéis de azulejo que revestem as paredes, a abóbada e a cúpula historiando a vida do Santo formam um dos mais extraordinários conjuntos em Portugal. A sul, fica um dos lugares mais belos do Algarve, composto pela Quinta do Lago, Vale de Lobo e Garrão. São praias de uma beleza única, pelas suas falésias ocres e rubras. Encontram-se integradas na Reserva Natural da Ria Formosa, daí que na zona se avistem inúmeras espécies vegetais e animais. Um autêntico paraíso.
Na Quinta do Lago e em Vale de Lobo poderá encontrar complexos turísticos de elevada qualidade, conhecidos nacional e internacionalmente.


Sabores tradicionais

Partir à descoberta de uma terra e não provar as iguarias que brotam naturalmente das mãos das suas gentes é como ir a Roma e não ver o Papa.
Loulé orgulha-se da sua gastronomia que contrasta as carnes saborosas da serra com os peixes frescos do litoral. Uma mescla de saberes e sabores que faz as delícias de quem visita o concelho.
Com a finalidade de lhe deixar uma ementa saborosa, caso decida visitar Loulé nas próximas férias, apresentamos-lhe aqui uma mesa farta e diversificada em apetitosos pratos regionais. Apure o paladar e, já que não pode saborear, anote cada um dos preparados que lhe sugerimos.
Do mar chega-nos a sardinha assada, o carapau de tomatada, as lulas com ferrado, a sopa de pão com conquilhas, o creme de camarão e o arroz de polvo.
O campo presenteia-nos com as ervilhas, o grão, o milho, os chícharos, as favas, o feijão, a lebre com vinho branco e a galinha cerejada de Loulé.
E como nestas horas o pecado transforma-se em prazer ainda há tempo para os bolos de faca, de prata e de chila, os bolinhos e queijinhos de amêndoa, o folar e os mexericos de Boliqueime, as cavacas e os esquecidos de Alte. A tudo isto junta-se o já tão falado medronho para aliviar uma barriga farta.
E agora diga lá que Loulé não é um encanto!