A História da civilização
respira-se em conjunto com o ar da Serra da Estrela, misturada com a beleza da paisagem
que se estende pela Cova da Beira. O Templo de Nossa Senhora das Cabeças
aumenta ainda mais a sensação de dois mil anos de recuo no tempo.
A base de um templo romano, com cerca de 200 metros quadrados, foi descoberta na
freguesia de Orjais, concelho da Covilhã, no ano de 2001. A plataforma granítica
foi encontrada durante trabalhos de campo feitos na região por uma equipa
liderada por Pedro Carvalho, da Faculdade de Arqueologia da Universidade de Coimbra.
O Templo de Nossa Senhora das Cabeças, segundo o arqueólogo, foi colocado
a descoberto pela Junta de Freguesia de Orjais quando construiram o caminho que
dá acesso a ele. "Puseram a descoberto aquilo que hoje está à
vista, que é um antigo templo romano, edifício com cerca de dois mil
anos, tendo sido recentemente classificado como imóvel de interesse público
pelo IPPAR", explica Pedro Carvalho. A primeira avaliação do
potencial científico e patrimonial do local foi feita há perto de
dois anos.
A surpresa com o que viu é explicada por Pedro Carvalho pelo facto de ser
uma peça rara, única. Apesar de existirem no concelho vários
locais classificados, este templo romano tem uma característica que o diferencia
de outros encontrados no País. "Este destaca-se pelo seu posicionamento,
que é contra todas as regras, contra tudo o que é normal na arquitectura
romana. Geralmente, os templos situam-se nas cidades, nos núcleos principais
das zonas", afirma o arqueólogo. O seu posicionamento, em pela encosta
da serra, "com uma vista fabulosa para a Cova da Beira", traduz a enorme
particularidade do edíficio. Segundo o investigador da Faculdade de Arqueologia
coimbrã, o povo romano deve ter escolhido este local, não só
pela panorâmica imensa sobre a região, mas também porque esta
deveria corresponder a uma unidade político-administrativa, uma civitas.
"E este templo deveria ser um santuário regional, visto por toda a população",
acrescenta Pedro Carvalho.
O também docente de Arqueologia refere que este monumento é muito
semelhante ao Templo de Diana em Évora, embora com todas as particularidades
já mencionadas. O interesse de Pedro Carvalho pelas ruínas aumenta
ainda mais quando prepara o doutoramento sobre "O Povo Romano na região
da Cova da Beira".
"Local merece projecto de escavação integral"
"Isto merecia um projecto que implicasse a escavação integral
do edifífio, porque, para além de o ficarmos a conhecer melhor,
ficaríamos com outra imagem dele, muito mais imponente do que aquela que
agora temos", defende o professor de Arqueologia. Com uma boa parte do templo
ainda soterrada, Pedro Carvalho manifesta a vontade de continuar o seu trabalho
até ao fim, juntamente com a equipa que o acompanha. Equipa essa constituída
por alunos daquele curso.
Posteriormente, sublinha o arqueólogo, poderia vir a desenvolver-se um
outro projecto "de valorização do templo". E que "poderia
passar pela construção de um centro interpretativo". Isto porque,
sustenta o arqueólogo, "o local possui uma outra singularidade do
ponto de vista didáctico-turístico, algo que o torna ainda mais
apelativo, que é o seu enquadramento paisagístico". Daí
que, assevera, o potencial histórico do templo poder ser ainda mais explorado,
"sobretudo numa região em que este tipo de realidades não é
muito frequente".
As entidades locais têm conhecimento do trabalho efectuado por Pedro Carvalho
e "revelado interesse". A campanha de 2001 foi patrocionada, em grande
parte, pela Região de Turismo da Serra da Estrela. Quanto ao IPPAR, "que
tem vontade de ajudar", já está ao corrente do projecto de
intervenção que o arqueólogo pretende levar por diante. "Agora,
o que falta e seria interessante, era as entidades locais construirem uma plataforma
financeira que suportasse essa intervenção", defende. E assegura
que da parte da Universidade de Coimbra existe todo o interesse e capacidade técnica
para o fazer.
O mesmo interesse é partilhado pela Junta de Freguesia de Orjais. No entanto,
António Canário esclarece que a entidade "nunca poderá
financiar uma situação desta natureza porque não temos verbas".
Porém, o autarca garante "todo o apoio que possamos prestar à
descoberta de mais elementos nas ruínas". Canário, em declarações
ao NC, refere ainda que vai, dentro em breve, contactar a Câmara Municipal
da Covilhã com o intiuto desta asfaltar o caminho que dá acesso
ao local. Isto porque, justifica, "aquele sítio tem tudo para se vir
a tornar, no futuro, uma fonte de exploração turística".
Neste âmbito, revela António Canário, é pretensão
da Junta construir aí um parque de merendas "para chamar mais a atenção
das pessoas". "E finalizar convenientemente as ruínas para puxarmos
ainda mais pelo turismo na nossa região", acescenta.
Questionado sobre quanto tempo poderá demorar até que o templo romano
esteja totalmente a descoberto, Pedro Carvalho chama a atenção para
o facto de o volume de terras ser considerável. "E também é
difícil em Arqueologia calcularmos o tempo que as coisas demoram, devido
às surpresas", remata.
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