Por Catarina Rodrigues



O Dia Internacional dos Museus foi assinalado com uma visita às instalações da antiga Real Fábrica Veiga

O Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior aproveitou as comemorações do Dia Internacional dos Museus, a 18 de Maio, para promover uma visita ao novo núcleo museológico que está a ser construído na antiga Real Fábrica Veiga. A infra-estrutura, situada junto à ribeira da Goldra, tem uma área de seis mil metros quadrados e irá albergar o Centro de Documentação e Arquivo Histórico dos Lanifícios, um silo auto e uma nova área destinada ao Museu, desta vez dedicada à fase de industrialização.
Elisa Pinheiro, directora do Museu de Lanifícios, realçou o apoio do Programa Operacional de Acção Integrada de Base Territorial (AIBT) Serra da Estrela, para a concretização do projecto." A AIBT interveio ao nível da recuperação do edifício agora vai seguir o projecto de musealização", explica Elisa Pinheiro. O Museu dos Lanifícios aguarda para isso a aprovação da candidatura a mais um projecto. "É muito caro transportar máquinas, recuperá-las e musealizar", sublinha a directora.
O Dia Internacional dos Museus foi celebrado em todo o mundo sob o lema "Os Museus e os seus amigos". A UBI aliou-se à iniciativa e entregou diplomas a instituições e cidadãos particulares que doaram espólio ao Museu dos Lanifícios a partir de 1998. Actualmente existem mais de cem doadores, na cerimónia foram entregues cerca de 50. "Foi a melhor forma de comemorar este dia" refere Elisa Pinheiro.
António Oliveira foi um dos homenageados por ter doado um tear antigo ao Museu dos Lanifícios. "Entreguei o material a quem o pudesse preservar", refere. O tear ainda não está em exposição, mas António Oliveira acredita que passará a estar no novo núcleo. Também Maria José Arnault Duarte, mãe de José Luís Arnault, ministro adjunto de Durão Barroso, doou uma escritura de 1822 do Engenho do Sineiro. "Passou de geração em geração, mas eu achei que teria mais valor para o Museu do que para mim e foi por isso que fiz a doação", explica.


Na construção são visíveis traços do passado que se interligam com elementos actuais




Articulação arquitectónica

Bartolomeu Costa Cabral é o arquitecto responsável pelas obras a decorrer no antigo complexo da Real Fábrica Veiga. O responsável salienta a preocupação da UBI em aproveitar as estruturas pré-existentes e em promover a recuperação do património.
No caso da construção do novo núcleo museológico "procurou-se articular o antigo e o moderno", explica. Respeitaram-se os elementos fundamentais da fábrica e ao mesmo tempo procurou-se transmitir a imagem de uma estrutura actual. Segundo Costa Cabral "este trabalho é por isso pioneiro".
A inauguração da infra-estrutura esteve marcada para o dia 30 de Abril mas devido ao Inverno rigoroso e a vários atrasos na obra tal acabou por não acontecer. Manuel dos Santos Silva, reitor da UBI acredita que a parte da obra destinada ao segundo Núcleo do Museu de Lanifícios será inaugurada no início do próximo ano lectivo. O espaço onde será instalado o Centro de Documentação e Arquivo Histórico estará pronto até final do ano.
Devido à ocorrência de um incêndio o conjunto edificado apresentava uma diversidade de estados de conservação que aconselharam o faseamento das obras. A área melhor conservada (edifícios localizados mais a Sul e Nascente) foi destinada à instalação do Núcleo Museológico da Industrialização e o edifício mais próximo da Real Fábrica de Panos ao Centro de Documentação/Arquivo Histórico e a um parqueamento automóvel.
No início das obras, há cerca de dois anos, os trabalhadores encontraram marcos históricos do processo de industrialização na Covilhã. Os achados acabaram por trazer algumas modificações ao projecto inicial. Agora vão integrar o futuro museu constituindo uma mais valia, uma vez que vão ficar patentes ao público.

Um museu para todos

Os novos espaços estão vocacionados para acolher públicos diversificados como é o caso de investigadores de diferentes áreas científicas e designers de tecido e moda. Distribuídas pelos cinco pisos do edifício, haverá áreas do Museu abertas ao público e outras não públicas tal como acontecerá com o Centro de Documentação. Serão ainda instaladas uma cafeteria, uma loja, um auditório, um atelier e áreas de exposições temporárias.
Lemos dos Santos, coordenador da AIBT considera que o Museu de Lanifícios é "um projecto estruturante, tal como o Centro de Interpretação da Serra da Estrela em Seia, o Centro de Férias em Fornos de Algodres e o Museu Judaico de Belmonte. O coordenador afirma estar convencido da existência de um reforço de verbas que vai permitir a recuperação das infra-estruturas nas Penhas da Saúde, onde até agora só foi feita a primeira fase.
Elisa Pinheiro pretende também que o novo espaço museológico da UBI constitua o Centro de Interpretação do Eco-Museu de Lanifícios da Região da Serra da Estrela.

 



Arqueologia Industrial



Na comemorações do Dia Internacional dos Museus houve ainda espaço para o lançamento do livro que contém as Actas das III Jornadas de Arqueologia Industrial. Uma iniciativa que teve lugar na UBI em 1998. Segundo Elisa Pinheiro esta publicação contribuiu para desenvolver o projecto Arqueotex que teve por objectivo a criação de uma rede europeia de informação sobre o património industrial têxtil.
O tema central é "A Indústria Têxtil Europeia - os Fios do Passado a Tecer o Futuro". O livro tem mais de 700 páginas onde é possível encontrar todas as comunicações feitas pelos participantes das jornadas.