Fernando Alvim vai lançar um livro no final do mês de Maio
Descobrir as paixões de Fernando Alvim
"Atribuir uma maior liberdade criativa aos animadores"

Muitas pessoas identificam Fernando Alvim apenas com o Curto Circuito, programa que apresentou ao longo de vários anos. Mas Alvim é, simultaneamente, director da revista 365, uma publicação com algum sucesso nos meios mais restritos de Lisboa e Porto. Fernando Alvim é também responsável pela organização de alguns festivais de música e um dos mais interessantes radialistas portugueses. Uma pessoa que confessa sentir um prazer enorme em tudo aquilo que faz. Esteve na Covilhã para fazer parte do Júri do III Festival de Música Moderna.


Por Mário Ramos


Urbi @ Orbi - Em que consiste a revista 365?
Fernando Alvim -
Possui um grande cariz literário. É uma revista de histórias que me dá muito gosto fazer e dirigir. Representa um desafio que persegui durante vários anos. A revista 365 é uma das minhas grandes paixões.

U @ O - João Pinto, jogador do F.C. do Porto, foi a entrevista da sua vida?
FA -
Sim, mas não só o João Pinto. Também gostei de entrevistar o Victor Espadinha e a Alcina Lameiras. No último número entrevistei a Marta da Ok Teleseguro. O próximo posso adiantar que será o Vasco Lourinho, o famoso correspondente da RTP que estava em Madrid há alguns anos atrás.

U @ O - Quem é que ainda não entrevistou e gostava de o fazer?
FA -
Temos na forja a Rute Rita que foi assistente do Herman José. Mas há outras pessoas interessantes. Tenho uma especial atracção por pessoas que foram ícones da minha geração. Estou-me a lembrar agora do Luís Pereira de Sousa e do Eládio Clímaco, por exemplo.

U @ O - O que é que gostava de fazer ainda na revista?
FA -
Possivelmente gostava que ela fosse mais conhecida. A 365 tem uma tiragem de cinco mil exemplares mas queria que atingisse os 15, 20 mil. Queria observar um maior interesse das pessoas pela revista.

U @ O - O nome surge também associado a um festival de música.
FA -
O festival 365 surge na sequência da promoção da revista e também da necessidade de nós fazermos coisas diferentes em relação ao Termómetro (n.r. festival de música). Ele sempre foi acústico e realizado no Porto e queríamos algo que fosse diferente. Então construímos o 365, um festival eléctrico que passa por várias cidades do país.

U @ O - Recorda algum grupo que tenha participado nesses festivais?
FA -
Lembro-me perfeitamente da participação dos Ornatos Violeta, na primeira edição do Termómetro unplugged em 1994. Foi uma actuação que me permanece ainda na memória. Depois apareceram os Silence 4 que ganharam em 1996. E outros grupos que não são muito conhecidos como os Zoe e os Sloppy Joe.

"Um dos meus maiores sonhos é dirigir uma estação de rádio"

"A rádio continua a ser um meio de comunicação de excepção"


U @ O - Se a rádio em Portugal fosse uma mulher como seria?
FA -
Seria uma rádio atraente. Penso que alguma rádio que se faz em Portugal é, ainda assim, atraente e elegante. Se bem que cada vez mais a rádio está padronizada com o domínio das playlist. Desaparecem progressivamente os programas de autor e desaparece talvez por isso uma certa genuinidade, uma maior personalidade da rádio. Acho que se devia atribuir uma maior liberdade criativa aos animadores, coisa que não parece ser a filosofia actual.

U @ O - Já não é o meio de descoberta que era?
FA -
A rádio continua a ser um meio de comunicação de excepção. É o meu meio preferido pela magia que transporta.

U @ O - Se tivesse uma rádio como seria a sua programação?
FA -
Tenho de dizer que um dos meus grandes sonhos é dirigir uma estação de rádio. Se a tivesse garanto-te que seria uma rádio onde todos os dias sucediam coisas novas e agitadas. Imagino uma rádio que seja interactiva, com um público que apoie iniciativas desde a música ao cinema, que faça acontecer alguma coisa.

U @ O - Interacção como sucede na Prova Oral?
FA -
Por exemplo. É um programa que gosto muito de fazer precisamente por causa disso, porque é um directo e, também, porque é um espaço onde as pessoas podem falar livremente sem qualquer censura. Isso para mim é suficiente para que o programa seja interessante.

U @ O - Para além da Prova Oral, que outros programas gosta de ouvir?
FA-
A Hora do Lobo, do António Sérgio. É um programa muito interessante, acredita em novos sons num espaço muito pessoal.

U @ O - Quais foram os radialistas que mais o influenciaram?
FA -
As minhas influências estão divididas em três fases: o Luís Filipe Barros, o António Sérgio e, finalmente, o Miguel Quintão. Estes foram as minhas maiores referências em termos de rádio.




"A Antena 3 tem feito um importante serviço público"


U @ O - Qual o programa que gostava de fazer um dia?
FA -
Neste momento apetece-me fazer a Prova Oral. Não sei se a resposta seria a mesma se a pergunta fosse feita daqui a dois anos. Aí já me apetecia fazer outra coisa porque a rádio é feita de mudanças constantes. Não gosto de ficar preso a um módulo, nem na rádio.

U @ O - Que histórias guarda na sua memória?
FA -
Já tive imensos momentos divertidos. Acho que, possivelmente aqueles que mais gostei foram quando falei com pessoas. Às vezes dizem coisas muito interessantes que não estamos a prever. O efeito surpresa na rádio é a coisa mais estimulante. Na Prova Oral acontecem diariamente coisas muito interessantes, desde declarações de amor fantásticas, a histórias absolutamente incríveis.

U @ O - A Antena 3 não devia tentar ser um pouco mais diferente?
FA -
Tem sido feito um esforço nesse sentido. Acho que se destaca de todas as outras rádios devido ao seu apoio à música nacional e por ter apoiado muitas outras coisas. A Antena 3 tem feito um importante serviço público.

U @ O - Quais são os seus projectos mais imediatos?
FA -
Gostava de fazer uma curta metragem, será possivelmente o meu próximo projecto. Antes disso vou lançar um livro no final do mês de Maio. Chama-se No dia em que fugimos tu não estavas em casa e descreve um pouco diversas histórias de amor.

U @ O - É difícil organizar a sua vida?
FA -
É uma questão de disciplina. Organizo tudo muito bem, factor que me permite ter tempo para tudo.