Tiago Neves Sequeira*

Cursos de Doutoramento
Um contributo para a reforma do Ensino Superior em Portugal


Ao contrário da tradição europeia continental, os Doutoramentos na tradição anglo-saxónica são constituídos por uma componente curricular (disciplinas), por exames de acesso à fase da dissertação e pela dissertação propriamente dita. Cada vez mais escolas optam pela oferta deste tipo de cursos de doutoramento. Em Economia, por exemplo, todas as melhores escolas do Mundo os oferecem.

Numa altura em que se equaciona a reforma do Ensino Superior em Portugal, a implementação de cursos deste tipo poderia trazer credibilidade acrescida à Universidade Portuguesa. Porquê?

Primeiro, porque são cursos objectivamente mais exigentes do que as tradicionais dissertações (que eram frequentemente - mas nem sempre - precedidas de um curso de mestrado), por duas razões meramente quantitativas: exigem a aprovação (ou média superior a 14) a mais disciplinas do que no mestrado e exigem a aprovação nos exames de acesso. Estes exames podem revestir formas diferentes consoante a Escola e consistem num único exame de especialidade, em exames gerais mais exame de especialidade ou ainda na apresentação de um pequeno paper empírico.

Segundo, porque a preparação académica e pedagógica para enfrentar alunos motivados para o doutoramento eleva a qualidade das disciplinas a níveis superiores ao que tradicionalmente é observado nos mestrados. Os mestrados são cada vez mais vocacionados para a vida profissional, objectivo que não se coaduna com a necessidade de ter teses de doutoramento que constituam um verdadeiro contributo para a ciência e que possam ser reconhecidas internacionalmente. Acresce a isto que as barreiras que os alunos têm que ultrapassar para serem admitidos a doutoramento garantem a qualidade científica e a capacidade de trabalho do candidato, o que nem sempre é possível com o esquema tradicional.

Por fim, este acréscimo de qualidade é simultaneamente causa e efeito de uma maior interligação entre instituições universitárias de renome, dando verdadeira acepção ao termo Universidade, quer ao nível de intercâmbio de docentes quer de alunos. Daí decorre o aumento da credibilidade científica das instituições e o reconhecimento internacional com o natural aumento do número de publicações científicas em jornais com referees.

Para a Universidade da Beira Interior, a implementação de cursos deste tipo nas suas áreas de excelência trará as seguintes vantagens:
(1) Sedimentar e afirmar a UBI como escola de Pós-graduação de vanguarda na Europa;
(2) Atrair público nacional e estrangeiro de cada vez maior qualidade;
(3) Permitir intercâmbios permanentes com as melhores escolas do mundo, no que respeita à formação do próprio corpo docente, deixando inalterada ou alargando a restrição orçamental da instituição;
(4) Integrar num produto único (o Programa de Doutoramento) de elevados padrões de qualidade todas as pós-graduações existentes, funcionando Mestrados, MBA's ou cursos de pós-graduação como sub-produtos (ou sub-conjuntos) daquele programa, garantindo também para estes um padrão de qualidade elevado.

Julgo que vale a pena pensar nisto!




*Economista, Docente no DGE-UBI, Doutorando na FE-UNL