António Fidalgo

Conflito e participação


Foram menos de 20 por cento os alunos que votaram na recente eleição para a Direcção da Associação de Alunos da Universidade da Beira Interior (AAUBI). Sinal dos tempos, sem dúvida, mas sinal de crise profunda no funcionamento democrático-representativo das instituições. É que não é apenas aqui que a abstenção eleitoral se faz sentir, mas um pouco por todo o mundo ocidental, de que o exemplo mais grave foram as eleições presidenciais francesas há pouco mais de um mês.
A concorrer às eleições da AAUBI houve apenas uma lista. Pode-se atribuir ao facto a baixa participação. Para quê ir votar se havia apenas uma lista que, à partida, tinha a vitória garantida? Mas o haver apenas uma lista não é apenas causa, mas também já efeito da crise de participação, característica da nossa época. Sim, porque é que não houve mais listas a concorrer à Direcção da AAUBI? Desinteresse, desmotivação, indiferença? Certamente, mas porquê? O que leva hoje um grande número de estudantes universitários a serem indiferentes perante os destinos da Associação que os deve representar face à Universidade?
A resposta de que os tempos que correm são de individualismo e egoísmo, sendo óbvia e não deixando de ter validade, não desobriga de buscar outras razões para a falta de participação cívica que se verifica. E uma das eventuais razões do desinteresse pela coisa pública poderá ser a inexistência da conflitualidade que deve existir num corpo social vivo. Cultiva-se demasiado o consenso, por vezes até ao unanimismo, e isso não é de modo algum saudável ou benéfico. Por pressão da sociedade, por interesses instalados, por exigências do politicamente correcto, cria-se um pensamento único e informe que tudo assimila.
Chegou a altura de fugir ao pântano, de buscar alternativas, de afirmar e não diluir diferenças, de lutar democraticamente por elas. Para isso é imprescindível pensar autonomamente a universidade, apresentar propostas próprias de a melhorar, e de lutar, com coragem, por essas ideias. Se assim for, aparecerão posições diferentes, haverá conflito, e as listas únicas verão aparecer contendores na luta democrática.
Por outro lado, há que ter em conta que a falta de alternativas reside na incapacidade de decidir. Quem não decide, mas adia, não suscita opositores. Mas quem decide, cinde, divide. O momento é de decisão, de escolher, de dizer sim a isto, e não aquilo.