As Minas da Panasqueira, na
Serra do Açor, concelho da Covilhã, foram recentemente
abaladas por um fatal acidente. A morte de um mineiro, Carlos
Matias, de 37 anos, foi causada por um desabamento de terras
no interior da mina quando procedia à perfuração
de um túnel. O incidente deveu-se, alegadamente, à
má escombragem do local, processo pelo qual o terreno
do túnel é limpo de pedras passíveis de
ceder. O liso, camada de pedra de corte horizontal, acabou por
ceder por força do seu peso e caiu sobre o jumbo e vitimou
o mineiro. Uma morte trágica que deixou todos os mineiros
e população chocados.
Para os trabalhadores e administração da empresa,
a Beralt In & Wolfram, o acidente não se deve à
falta de segurança. Acontecimentos difíceis que
não deixam esquecer o 'mito' associado à actividade
mineira. A vida passada debaixo de terra, na escuridão
total, não é hoje arriscada como em séculos
anteriores, defendem. Actualmente, na escavação
subterrânea os punhos e a picareta foram substituídos
pela tecnologia informática, um PLC que comanda automaticamente
as operações no interior da mina, e pelos jumbos,
broca mecânica que perfura a rocha.
Quanto ao acidente "nada o fazia prever". "Caso
idêntico a este, felizmente, deu-se o último há
15 anos e a última morte que se registou foi há
nove ou 10 anos", afirma Luís Lopes, engenheiro director
dos trabalhos subterrâneos e membro da administração
da empresa. Para Luís Lopes a actividade mineira é
hoje menos perigosa do que a própria construção
civil, onde a frequência com que se registam mortes é
muito maior. "Foi a natureza", refere Inácio
Gomes, encarregado capataz, que momentos antes do acidente tinha
estado no local.
Outro factor que subsiste na figura do mineiro é a silicose,
doença que afectava muito frequentemente os mineiros pela
aspiração por via respiratória da sílica,
partículas que se soltam da rocha. Este problema foi vencido,
depois dos finais da década de 50, com a utilização
de injecção de água nas brocas de perfuração,
que faz com que as micropartículas se depositem no solo.
Subida do preço do
volfrâmio
traz esperança à Panasqueira
As Minas da Panasqueira laboram
há sensivelmente 100 anos. Desde então atravessou
momentos altos e baixos, consoante a oscilação
do preço do volfrâmio no mercado. Destas minas são
extraídos cacitrite, donde provém o estanho, calcopirite,
que dá o cobre e a volfrâmite, que tem múltiplas
aplicações. O volfrâmio é o produto
de exploração principal na Panasqueira. Foi pela
primeira vez apresentado em 1900, na Exposição
Universal de Paris, pelos americanos que descobriram as suas
potencialidades quando associado ao aço, conferindo-lhe
alta resistência. A partir daí as suas aplicações
foram várias, desde o tungsténio (filamento das
lâmpadas), às lâminas dos buldozzers, às
brocas até à electrónica e a material cirúrgico.
Na indústria da electrónica "chegam 100 toneladas
para responder a todas as necessidades", explica Ramakchondra
Naique, formado em engenharia mineira e director geral das minas.
Com características de dureza semelhantes às do
diamante, alta densidade e trabalhado em pó, resistindo
a temperaturas de fusão muito elevadas, o uso do volfrâmio,
um dos últimos metais a ser descoberto pelo homem, nunca
se tornou muito vulgar devido ao seu preço. Outros metais
mais baratos, como por exemplo o urânio empobrecido ou
o chumbo, substituem-no numa das suas maiores aplicações:
o armamento. Foi por altura da Segunda Guerra Mundial que a exploração
na Panasqueira atingiu o seu auge. Por essa altura chegou a empregar
11 mil pessoas. Naquelas paragens, a paisagem envolvente indicia
uma grande actividade à volta da mina. Na encosta são
visíveis numerosas fileiras de casas que eram propriedade
da mina até 1994, altura em que a mina fechou pela primeira
vez. A administração, anterior à actual
que assumiu a exploração em Janeiro de 95, entregou
essas casas às famílias dos mineiros. Muitas delas
destelhadas mostram o abandono que vivem actualmente. Sente-se
em toda a vila uma magia que lhe terá ficado dos tempos
idos.
Actividade intensa voltou a viver nos anos de 55 e de 84 a 86.
Hoje bastam apenas dois turnos de 40 homens no interior da mina
para ela produzir diariamente as cerca de duas toneladas de 'tal
e qual', matéria bruta de minério extraído
de onde é retirado o tungsténio, que resultam numa
produção de 145 a 150 mil quilos de concentrado
de volfrâmio por mês. Desde há dois meses
o rendimento das Mina da Pansqueira tem subido devido a variações
positivas no mercado bolseiro do valor do volfrâmio, resultado
da quebra da produtividade das minas de volfrâmio da China,
a principal concorrente.
"Obra da mãe
natureza"
Quanto ao futuro, o subsolo
da Panasqueira tem minério para exploração
por mais duas ou três gerações, chegando
aos 400 metros de profundidade.
José Duarte, 56 anos, é mineiro há 28. Hoje
abandonou o interior da mina e trabalha no departamento de geologia
da empresa. Conhece a mina como a palma das suas mãos,
refere fascinado com a "obra da mãe natureza".
O seus colegas afirmam que seria capaz de não se perder
mesmo às escuras por meio dos labirintos de túneis
e pilares. Mesma sorte não têm outros trabalhadores
que, quando são novos ali, se desorientam, mas basta "seguir
o som das máquinas".
Toda a mina está cartografada, identificando exactamente
todos os filões, pedaços longilíneos onde
se encontram os vários minérios, que deverão
ser explorados.
Debaixo de terra sente-se um cheiro intenso. "Cheira a mina",
afirma José Duarte.
O fascínio pelo subsolo estende-se a muitos curiosos que
a visitam. O responsável pelo departamento de geologia
defende que as Minas da Panasqueira "se houver força
de vontade dos responsáveis, podem vir a ser um pólo
de atracção turística".
Falta de mão de obra
no sector
Em Outubro passado a Beralt
In & Wolfram tentou admitir pessoal para os quadros mediante
formação garantida pela própria empresa.
Para isso publicou vários anúncios a recrutar pessoal
para as minas. A intenção era mesmo abrir a antiga
Escola Mineira das Minas da Panasqueira, espaço que funcionava
para dar preparação ao longo de 4 a seis meses
para exercer as funções de mineiro.
Na primeira solicitação aos centros de emprego
da Covilhã e Arganil, obtiveram 53 respostas, das quais
só admitiram 3 com o srequisitos necessários.
Dentro de um ano e meio a empresa pensa vir a recrutar mais pessoal,
entre 60 a 80 pessoas, para poder aumentar a produção.
Os tempos de reforma dos actuais mineiros estão a chegar
e há necessidade de renovar mineiros e técnicos.
Nos dias de hoje, e devido ao desenvolvimento tecnológico
adoptado, o espaço parece vazio. É possível
ter a produtividade de 25 homens apenas com cinco a trabalhar. |