Frida Kahlo é muito provavelmente
a mais famosa pintora mexicana de sempre. Nascida em 1907, teve
uma vida que se pautou por acontecimentos trágicos, os
quais exerceram grande influência na sua forma de ver o
mundo, e que a levaram a abraçar a pintura como forma
de poder exteriorizar todos os sentimentos que a assolavam por
dentro.
Na sua infância, aos seis anos, contraiu poliomielite,
o que lhe deixou marcas visíveis na perna direita e no
pé esquerdo, que Frida tentou esconder passando a usar
calças na adolescência e, mais tarde, compridas
saias mexicanas. Num dia do ano de 1925, o autocarro em que seguia
Frida Kahlo embateu num eléctrico. A jovem tinha 18 anos
e sofreu ferimentos na coluna vertebral, de tal modo graves que
os médicos questionavam-se se sobreviveria ou não.
Passou nove meses na cama de um hospital, completamente privada
de liberdade e de movimentos corporais. Foi precisamente neste
período que começou a pintar pela primeira vez,
como forma de se distrair do sofrimento que a consumia. Diz-se
que o seu primeiro desenho dizia respeito à forma como
recordava o acidente que sofreu.
Saída do hospital, e postas de lado as hipóteses
de vir a tornar-se médica, Frida Kahlo começou
a dedicar todo o seu tempo à pintura, afirmando que a
sua obsessão era começar de novo e passar a pintar
as coisas tais como os seus olhos as viam. Por esta altura, a
artista decidiu quebrar os tabus do seu tempo e passou a representar
nos seus quadros imagens muito pessoais, intimamente relacionadas
com o corpo e sexualidade femininas.
A pintora começa igualmente a relacionar-se com artistas
e intelectuais do seu tempo e acaba por casar-se com Diego Rivera,
um famoso pintor mural mexicano. Apesar de uma relação
de altos e baixos, e que os levou a divorciarem-se e casarem
em segundas núpcias, Diego Riviera diria nos anos 50 que
Frida era "a primeira mulher na história da arte
a tratar, com absoluta e descomprometida honestidade, podíamos
até dizer com uma crueldade indiferente, aqueles temas
gerais e específicos que apenas dizem respeito às
mulheres".
Diego Rivera instiga-a mesmo a pintar os acontecimentos que ela
considere serem os mais relevantes da sua existência, e
a pintora começa a representar nas telas desde a sua existência
pré-natal, representada através de um feto no útero
de uma mulher, até à forma como ela via o seu nascimento,
a sua amamentação e infância. Começa
igualmente a pintar inúmeros auto-retratos, que justifica
da seguinte forma:"Eu pinto-me porque estou muitas vezes
sozinha e porque sou o tema que conheço melhor".
Todavia, mesmo nestes auto-retratos, a pintura retrata-se contrastando
a sua figura com paisagens de fundo vastas, despidas ou vazias,
ou em quartos frios, que pretendem representar a sua solidão,
resultante quer da sua relação turbulenta com o
marido, quer do facto de não conseguir levar uma gravidez,
que era muito desejada, até ao fim.
Devido a estes factos, a artista começa a centrar, cada
vez mais realística e agressivamente, a sua atenção
em temas como a gravidez e o aborto, desenvolvendo uma linguagem
visual muito própria que buscou raízes na ligação
que o povo mexicano tem com a morte, nas esculturas pré-colombianas
e na iconografia cristã.
Depois de um período de uma certa estabilidade física;
em 1950, a artista volta ao hospital por um espaço de
nove meses e após sete operações à
perna e à coluna, volta a pintar durante cinco horas por
dia, sendo-lhe montado um cavalete especial na sua cama para
que pudesse trabalhar, deitada de costas.
Foi ainda obrigada a ter de usar vários coletes ortopédicos
de materiais diferentes, tendo pintado alguns deles com o desenho
da sua própria coluna fracturada.
Frida Kahlo continuou a pintar até à sua morte
em 1954, deixando transparecer em todos os seus quadros uma profunda
tristeza e revolta. Tornou-se uma figura de culto, devido ao
facto de pintar acamada e com fortes dores. É também
das artistas que mais intimamente ligou as experiências
pessoais com o seu trabalho. O México dedicou-lhe o Museu
Frida Kahlo, construído na casa em que a pintora cresceu.
Pedro Jesus
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